fundação da cidade de belém (tela de 1908) - theodoro braga |
poema 396
mais de trinta anos vivi em belém
mormente nasci adoeci sarei e
morri em belém
anti-comoção de minha vida
foi um tempo de quartos
sem janelas, aliás, já perto do fim
me dei janelas fulcrais - viradas para o poente
porque a ganância me iludiu
via o sol se espetar nos prédios
arredio, e nem um vento rajado
vinha o ventilador
despetalar
um dia quando eu nunca mais voltar
mandarei erguer uma casa
na campina, onde a alma de alguma
do XVIII viceja desabada... melhor: eu mesmo
vou fazer minha morada, de janelas agora
abertas ao nascente
e na madrugada ouvirei
- pouco antes do arrebol -
um friozinho vento me dizer lençol
(depois a morte geminada vai murar minha janela)
e lá no alto da pixuna boca
eternos satélites e o fio equador
.
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poema inédito de paulo vieira
.
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2 comentários:
janelas, poente, nascente e...
pixuna boca.
Hugs!
braitionit! irmão!
eu, como você agora, carrego comigo a cidade, na mochila da memória! força aí!
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