sábado, 31 de janeiro de 2009

CARTAS NA MESA


supertramp e pablo, hands by paulo vieira







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dizer que ando sem postar nada faz tempo, nao é dizer que nada ando produzindo, fato é que os novos trabalho estao vinculados ao chato ineditismo, como no caso da Bolsa Funarte de Criaçao literària que me puseram nas costas. dito isso, nao posso tudo sair publicando aqui, nesse meio promiscuo, nada exatamente contra o meio, but...

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passo entao a postar poemas dos livros editados e lançados, mas que quase ninguém leu e quase ninguém lerà mesmo e textos desvinculados de qualquer obra em andamento
(alerto: meu teclado francês-frescao nao possui o tiu e outros acentos, assim, vou improvisando, na escrita, e você, na leitura)
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poema só para glauco mattoso


aprendi a escrever na cegueira
caro leitor solar e

sei que esse te parece
um obscuro trabalho
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talvez inútil
deves pensar

mas o verso da paisagem retida
no universo acomodado das retinas

revela

que o sol do poema
clareia a noite fria
e é noite clara
o que chamam dia



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o peso do tronco de príapo


e quando comprimiu o pesado tronco
contra

dos quadris
a carnadura viscosa
e,
de tanta violência, rósea

se agitaram perdidamente as finas veias
sob a pele a azular a noite dos figos

não havia sequer uma gota de ar entreventres
as duas respirações de todo emudeceram

embaixo o cetim e uma lagoa

nada havia que a libertasse desse tronco
de amor suplicioso mas

um filamento leitoso passara a ligar
útero e virilhas vindo do interior
descendo as cachoeiras até o vale
dos grandes lábios vermelhos

agora o peso do tronco de príapo diminuía
lentamente sobre a fonte
e
de repente
um grito se instaurara
na úmida garganta de sua
ainda sedenta
amante



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underground
para thiara fernandes



presa pelo pescoço a noite
corroia a fria corrente que o dia puxava mas
todos os ventos da terra invadiram os infernos
para os festejos do fogo e
houve felicidade entre
os demônios que nos torturam



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quieto à margem de mim, o vento


e me deixei tombar entre algas azuis
junto à delicada ramagem flutuante.
num instante eu estava plácido
e minha sede seduzia peixes pálidos.
veio a chuva e me fez música na epiderme.
quieto à margem de mim o vento
era como um deus vestido
em branca túnica de brisa
e tudo era lento nessa tarde cinza.



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fragmento

nas pontas de teus dedos havia um fogo gelado
que se derramava na pele quente

não sei dizer se as montanhas ficaram para trás
do sono anêmico da sombra sem dono
ou se meu abandono
transmutou-se em pássaro de asas mudas

tuas estrelas, contudo, só desaparecem
quando a noite fecha os olhos para dormir e

logo

em meio a poeira amarelada do poema ressurges
como um sol de bronze ou
ro


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poemas do livro orquideas anarquistas (ed. iap, 2007)