quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A CIDADE NÃO PÁRA A CIDADE SÓ CRESCE



rumo ao farol, 2008, by danielle fonseca, artista plástica







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SANTA MARIA

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são de se admirar os carretéis da iluminação
pública, as hélices das bicicletas, e tantas coisas
que passeiam por ti ou pelas quais passeias senão
para ver as luzes da cidade severa, depois repousas

na calçada descalço, sob as patas de um felino feroz,
faminto, tipo de animal pouco doméstico, conhecido
como sol, cúmplice da manhã, a tarde feito um algoz,
te vais deslizando para fora das coisas, um perdido

mar de barcos encalhados, as coisas encalham em nós
e seguimos agitados, iguais ao mar em meio a tempestade,
sem porto, portadores de coisas inúteis, reféns da cidade
com suas árvores desobedientes e seus pulmões heróis.


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poema inédito de paulo vieira,


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terça-feira, 26 de agosto de 2008

SUPERTRAMP

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MARIANA'S SONG

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emparedar as costas da mulher e depois sentir
no cimento do queixo, miligramas de nuvens.
só mesmo as árvores e cavalos selvagens detêm
certos traços da nudez da mulher, aquele ir

e vir de pernas, o estreito cálice onde dorme
a seiva elaborada, onde a língua quase morre
afogada, o cabelo em ondas que recobre, enorme,
os ombros de prata quando um fio de calor percorre

as ancas, desliza pelas coxas, púbis, e vai ao centro
de toda a flora recomeçar a estação dos arrepios.
emparedar as costas da mulher e guardá-la dentro
do concreto corpo de homem feito represa de seus rios.

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inédito de paulo vieira

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A NOITE NUNCA TEM FIM

dia morrendo no outono suiço by paulo vieira




MAIS UMA DOSE

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a ponta do indicador faz o gelo circular
no copo onde a bebida, mais vermelha
que meus olhos, amarga, se assemelha
ao sangue que só derramamos ao amar

mas ninguém repara que nesse contato
todo o sangue retorna a mim pela ponte,
feita por um dedo dormente e sem tato,
pra depois sumir nos muros do horizonte

e é aqui neste copo o encontro perfeito,
o gelo vai perto da boca, mas não ousa,
em silêncio os lábios se fecham refeitos
e a língua embebida em sangue repousa

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poema inédito de paulo vieira

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COMENTÁRIO SOBRE O POEMA mais uma dose,
inpossível de ser postado, normalmente, em comentários pelo abuso da forma que o comentarista escolheu:



a ½ passo do marco 0:


.........................eta
po..........................................mente
........................ética

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poema-comentário de fabricio ferreira

terça-feira, 5 de agosto de 2008

CONFESSIONAL

petalas das orquideas anarquistas by d'arcy albuquerque





meia-noite e uns vulgares minutos envelhecem ainda
mais a lua e seus ponteiros estelares, o silêncio reúne
suas partes no barro dos muros pichados deste bairro.
no terceiro andar, minha nova hospedaria, minha
e da família que para sempre eu quisera de gaze,
mas no sono tudo se eriça, até o filho virou brisa
e dorme pela relva verde ao peito da mãe e da flora.
pressentes o silêncio a infestar-se por toda essa hora?
a madrugada rola destemida, alheia ao embate,
pelos telhados derretidos, massacrados, esfomeados
das casas mal nutridas dos homens do mau, meus
irmãos, meus camaradas, meus bandidos e serviçais.
constatar que metade de uma vida é quase nada,
diante dessas luzes me apagando inteiro da janela.
os túneis invisíveis em cada rua da noite notável,
os meninos passeando pela calçada e seus fachos de
miséria maravilhosa, de alegrias sem mácula ou rima
que possa acompanhar suas ávidas respirações banidas
do mundo que trancafiei no quarto mínimo do peito.
tanto rejeitei as flores que meu corpo entortou-se como
um caule qualquer que a noite dobra com fúria assassina,
tanto rejeitei outra parte de mim que não fosse sombra
que agora crescem os cabelos da criança à revelia da morte,
de mim ou de qualquer deus, desobediente cresce no quarto
enquanto a madrugada decresce na janela, vai crescer mais
do que eu esse menino, vai empatar com o sol se dormir
bem, será o dono de minha sombra e de meus bens,
os mais preciosos, dispostos em fileiras, arredios,
celulósicos, desprezíveis aos olhos do comércio.
meia-noite e uns vulgares minutos me envelhecem ainda
mais, esse gosto de cachaça vem da rua, o vento une as
memórias extraviadas e sopra nos olhos dos semáforos.
as estrelas estremecem ao piscar de olhos, as estrelas são
partículas deste mundo em suspensão, de tão pequenas
há apenas uma rua e uma lâmpada em cada estrela.


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poema inédito de paulo vieira.


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COMO NUM PASSE DE MÁGICA O VIEIRANEMBEIRA DEU CONTA DOS COMENTÁRIOS, APAGOU-OS TODOS, AO POEMA confessional, NÃO ME PERGUNTEM COMO. ASSIM, JULGANDO IMPORTANTE AS PALAVRAS DOS AMIGOS E PEREGRINOS, E VALORIZANDO O NÃO ESTAR SÓ, MOSTRO AQUI MESMO EM CORPO, OS COMENTÁRIOS E SEUS RETRUQUES...


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Paulo: teu poema continua com a força do existencial, em que o tempo é matéria prima e ômega. Rico, cheio de imagens bonitas e densas. Forte como a luz do meio dia a derreter hipocrisias. Grande!

Gutemberg Guerra


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bem... sobre as estrelas e os universos,eu ouvi, sobre o filho não sei é meio asustador, não o objeto direto mas a representação...
o todo é diferente,a algum tempo é, depois de orquídeas, um outro escritor...
que bom.


Thiara

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diferente...
mais coisas


Thiara

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thiara 1: caro lalú, espero que o trapezista nao quebre o nariz a qualquer hora, mas se quebrar, ao menos vai ter uma cara diferente depois. sobre os horrores da infânicia, não sei dizer... ta me saindo uma critic e tanto.

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vieiranembeira

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thiara 2: cadê os poemas afinal de contas?


beijo,

vieiranembeira

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Caro Gute:

que bom ter o amigo por aqui. e que bom receber essas palavras, quando tenho o mundo em meus ombros e ele não pesa mais do que a mão de uma criança,

beijo amigo,

vieiranembeira


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Gosto de escritores que não desperdiçam palavras. Duro ofício este. Não te invejo, eu e minha pequena escrita, a não ser que a admiração seja uma forma de inveja. É isso, você é um escritor admirável de se ler; não é tempo perdido, é tempo ancho. Sempre bom passar por aqui.

Marcelo Marrat

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Gosto de escritores que não desperdiçam palavras. Duro ofício este. Não te invejo, eu e minha pequena escrita, a não ser que a admiração seja uma forma de inveja. É isso, você é um escritor admirável de se ler; não é tempo perdido, é tempo ancho. Sempre bom passar por aqui.


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ei marcelão! obrigado, é mesmo uma busca não perdê-las, as palavras, mas nem sempre se consegue, elas são manhosas, lisas, mas às vezes nos dão uma chance, vivemos nessa dependência maravilhosa.

abraço,

vieiranembeira