sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

RETOQUE PARA BAIXAR




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caro ouvinte / leitor,



agora você já pode baixar meu disco de poemas e músicas retoque (2010), com o cantor henry burnett e arranjos da banda clepsidra no http://umquetenha.org/uqt/?cat=616, além do mais, estão disponíveis os discos anteriores de henry: não para magoar (2006) e interior (2007). no mesmo endereço você pode baixar também o disco bem musical (2004) da clepsidra. aproveite!


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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ALONSO ROCHA



foto (internet): o poeta alonso rocha no lançamento de seu último livro 
 


eu devia ter uns 19 ou 20 anos. escrevia feito um alucinado e estava concentrado nos primeiros desafios: compor quadras populares, as chamadas trovas. e foi assim que tive meu primeiro poeminha publicado num jornal da cidade, o extinto a província do pará, na coluna semanal do poeta alonso rocha. além de publicar meu poema, alonso me convidou em sua casa para o famoso suco de araçá da rita, sua sempre simpática esposa. nos tornamos bons amigos e alonso passou a ser o primeiro poeta ‘público’, digamos assim, a ler meus versos. e também eu lia os dele em nossos encontros.

com o passar dos anos a vida nos afastou e os contatos ficaram raros. mas sempre que nos víamos alonso reclamava, não sem estardalhaço, por meu sumiço e cobrava novas visitas.  em dezembro passado estive com ele, para uma conversa rápida, coisa que com alonso sempre foi praticamente impossível, pois ele sempre conseguia ser ainda mais falador do que eu. enfim, depois, por telefone,  marcamos um reencontro para o dia 19 de fevereiro, mas uns dias antes ele foi internado em estado grave e se foi ontem. ainda ao telefone, na última conversa, me disse “rapaz, eu não esqueci que você ficou me devendo um poema para o meu caderno de visitantes, lembre-se que até a foto para o caderno nós já tiramos em dezembro, não me enrola.. cadê o poema...?”.  eu não falei pra ele mas já havia escrito o poema em janeiro. não deu tempo de entregar.

alonso foi um dos poucos sobrevivente do parnasianismo puro, sentia algum orgulho nisso, e era para sentir mesmo, num tempo em que certos poetas sem vergonha, sob a couraça de modernos, têm a covardia de condenar até mesmo a rima, mas nem se tocam que metem os pés pelas mãos em seus comportamentos ultra-idiossincráticos (meu eufemismo para "confusos pra car&;*#lho") e sequer sabem fazer um verso cantar sem desentoar / destoar. alonso acreditou e viveu, condições mínimas para conseguir comprar algumas doses do raro ópio da felicidade. com sua morte, pouco tempo depois da morte de seu primo max martins, a cidade ficou ainda mais esmaecida para mim, feito uma perdida paisagem numa foto empoeirada caída por trás de uma cômoda imóvel.

a seguir um poema dele, alonso, autor de pelas mãos do vento (1954) e o tempo e o canto (2010).



BREVE TEMPO

Se me queres amar ama-me nesta hora
enquanto fruto dando-te a semente.
Se te apraz me louvar louva-me agora
quando do teu louvor vivo carente.
Aprende a te doar antes que a aurora
mude nas cores cinza do poente.
Se precisas chorar debruça e chora
hoje que o meu regaço é doce e quente.
A vida é breve dança sobre arame.
Sorve teu cálice antes que derrame
ninho vazio que o vento derrubou.
Porque quando eu cair num dia incerto
parado o coração o olhar deserto
nem mesmo eu saberei que já não sou.
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CONEXÃO VIVO

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o artista renato torres foi um dos 20 e poucos seleciodados para o conexão vivo no pará. renato é meu parceiro, graças ao henry b., que reuniu amigos para a gravação do nosso disco em 2010, dentre eles, renato. de lá pra cá, eu me aprimorando no labor das letras de música, passei a oferecer algumas a ele. com um aproveitamento de 101% em nossas parcerias, renato agora disponibilizou 5 músicas ultra-inéditas em http://renato-torres.conexaovivo.com.br/, das quais 3 são nossas, ouça, vale a pena!


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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

THRASH METAL

escrevi uma letra pra um baixista de certa renomada banda de thrash metal de belém, o título é dance in the flames of the death. na verdade escrevi em português: dança nas chamas da morte, mas sabe como é banda de metal, canta sempre em inglês, e só de pensar em convencê-los de outra ideia ouve-se logo aquele no way, por isso, fez-se uma porca tradução da letra... agora é esperar e ver se dá rock.

evoé!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

UMA CANJA DE POEMAS DO RETRUQUE: SETE SONETOS

vieiranembeira no simpósio olhares sobre o poético, 2 de dezembro, 2010.


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o palhaço

um palhaço trêmulo, gente, e o riso
de espanto frente as feras que lhe comem
as pernas, os braços e depois somem
na nuvem emplumada do improviso
na entrada do meu circo há um aviso
aqui jaz o espectro de um homem
alquebrado, fraco, mas não lhe tomem
por triste, ou derrotado, é mais que isso.
pois a corda bamba da morte ensina:
o sorriso é um verso sem palavra
que, oculto, põe navalhas na retina
e se ao canto o palhaço se escalavra,
cômico em sua dor, morto na ideia,
sobrevive aos sorrisos da plateia
 
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corcel memória
 
 
no coreto central a hirsuta crina
trepida contra o vento de granito
num torpor e frente a fúria assassina
das aves artificiais corre aflito
o infante mas esquece aos pés do mito
suas linhas, cerois e sua sina.
o corcel da memória se ilumina,
heitor desce as escadas e admito
que o sol deste sábado me consome
ainda que no céu não se apresente
inteiramente pois seu rosto some
em nuvens de matéria incandescente.
da praça em alucinante tropel
evade-se o heroico corcel
 
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soneto lazuli
 
 
certeira, no ombro, e o curare escorre
a selva azula-se, lazuli, gira
e por seu ângulo fechado a torre
irrompe num rompante e me delira
curto, o horizonte, apenas percorre
galhos, brácteas, pecíolos e a lira
da loucura dolente enfim transcorre
exéquias gloriosas e conspira
contra os últimos cedros e a liana
escondidos nos escombros da sombra.
a mim pouco denota a dor humana
quando a flecha arranco e na verde alfombra
pousa o licorne sua luz meridiana,
a ferida se fecha mas não sana
 
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o duelo
 
 
deixa o duelo ferido na coxa
nas mãos e nos pés sangue repisado
os baques zunindo dentro da mocha
deixa o duelo pendendo de um lado
a morte vem dentro da noite roxa
pousa seus dedos no peito parado
e é duro o embate feito o da rocha
contra netuno nas praias irado
se agarra o homem às vestes da morte
pressente em seus olhos a sua consorte
contudo está vivo e um novo duelo
precisa travar no campo sangrento
a morte se vai mas permanece o elo
entre o homem e seu complemento

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  tarde encalhada
 
 
blake fala de infanticídios e deus
esnoba os poetas - além do mais
existe a ira divina aos ateus
e os provérbios infernais aos demais
e quanto mais se adia o adeus,
mais enguias se reúnem, mortais,
no pátio encharcado junto aos teus
sapatos de passeio triviais
para desgosto de zeus nenhum raio
na tarde encalhada feito baleia
só chuviscos e os anúncios de maio
o infortúnio de um inseto contra a teia
lançado pelo sopro do desmaio
e o descaso da aranha frente a ceia

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  tela sensorial
 
  uns três ácidos na língua jovial
e o javali preso ao carro de bois
foi a primeira tela sensorial
de muitas outras que vieram depois
fiquei ligado na noite espacial
e vi que tudo era um sonho entre dois
astros mortos num domingo glacial
- tombados no cruel combate, pois
nenhum sol seria dócil ao ponto
de entregar os ponto cardeais -
mas se a candura atrai os animais
para a morte ainda não estou pronto
embora prove da cegueira pura
quando o ciclope ergue a viseira escura
 
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labor do amor
 
  circe não sabe a fórmula secreta,
se soubesse eu já estaria morto.
pois em meio a flores e odores, no horto
da morte, desgraças a mim decreta.
já senti mais medo e dor mais discreta
do que sinto hoje, velho e absorto,
e sempre escapo à circe, como um torto
foge do atentado ao sair da reta
mesmo sem querer, sem nem perceber.
mas se asfixio devo entender
que o labor do amor é feito um veneno
mais letal que o barbitúrico ameno
do abandono e seus efeitos suaves.
[circe pairando nua entre as aves]
 
 
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in retruque, poemas, 2010.