quarta-feira, 9 de junho de 2010

APARIÇÃO NUM CAFÉ


vieira by detran


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os cabelos pretos lisos já foram maiores. tocavam as omoplatas. e toda chuva era dança entre os fios, esconderijo e gangorra. agora, uma pólvora nas pontas eriçadas, agulhas apontadas para o sol. passou por trás de mim enquanto eu tomava um café com chocolate muito amargo. não me movi, fiquei tal qual a mão de um morto, mesmo assim deu para ver todos os detalhes no ar projetado por seu andar com pressa. havia digitais em todos os fragmentos daquele perfume. respirei sua infância e a moça diante de mim também respirou, em seguida fez uma cara de cattleya e deixou-se tombar sobre a mesa que derreteu ao toque de seu queixo de corola. num gesto rápido consegui salvar meu café. tudo amolecia com essa aparição. paguei a conta e as moedas escorriam pela mão da garçonete, molhavam o antebraço. sai antes de os sapatos virarem poças. voltei para o hotel por uma rua incolor, feito as nervuras da mão de uma criança.


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