quarta-feira, 27 de julho de 2011

TERREMOTO

paulo vieira e alessandra nogueira, aniversário do site culturapará (2007?) by vasco cavalcante


terremoto com paisagem dentro


desde o estremecimento
as primeiras placas soltas
ganham asas     pedras mais
leves que o ar e o ar uma
brasa fulva ou cor
de chumbo     e com peso
de chumbo também

que pecado haver deuses
sem coração     corpo sem
imagem       ou imaginação
ferida aberta céu
aborrecido e uma nuvem
de borra emoldura
o último pássaro
que o céu faz descer
de suas costas azuis

resistência em fazer do
horizonte um poleiro
sobre o mar      poleiro
escondido nas copas
que lançam espadas
radiosas em nós
(aliás     nem sei
como não ferem
os galhos
passando
através)

poleiro atrás da
montanha onde
um sol derretido
ferve os homens
e a lua minguada
com duas pontas
esculpe invisíveis
estátuas

(restos       desse
trabalho       pó
e lascas sobem
no ar acendem
no breu matam
o frio dos céus
e o meu)

atrás da montanha
                  depois
a terra se abre
olha             o sol
condensa até um tom
mais leve       já o poleiro
desaba com o peso
do tempo     desde
o estremecimento

.

poema inédito de paulo vieira

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