terça-feira, 5 de agosto de 2008

CONFESSIONAL

petalas das orquideas anarquistas by d'arcy albuquerque





meia-noite e uns vulgares minutos envelhecem ainda
mais a lua e seus ponteiros estelares, o silêncio reúne
suas partes no barro dos muros pichados deste bairro.
no terceiro andar, minha nova hospedaria, minha
e da família que para sempre eu quisera de gaze,
mas no sono tudo se eriça, até o filho virou brisa
e dorme pela relva verde ao peito da mãe e da flora.
pressentes o silêncio a infestar-se por toda essa hora?
a madrugada rola destemida, alheia ao embate,
pelos telhados derretidos, massacrados, esfomeados
das casas mal nutridas dos homens do mau, meus
irmãos, meus camaradas, meus bandidos e serviçais.
constatar que metade de uma vida é quase nada,
diante dessas luzes me apagando inteiro da janela.
os túneis invisíveis em cada rua da noite notável,
os meninos passeando pela calçada e seus fachos de
miséria maravilhosa, de alegrias sem mácula ou rima
que possa acompanhar suas ávidas respirações banidas
do mundo que trancafiei no quarto mínimo do peito.
tanto rejeitei as flores que meu corpo entortou-se como
um caule qualquer que a noite dobra com fúria assassina,
tanto rejeitei outra parte de mim que não fosse sombra
que agora crescem os cabelos da criança à revelia da morte,
de mim ou de qualquer deus, desobediente cresce no quarto
enquanto a madrugada decresce na janela, vai crescer mais
do que eu esse menino, vai empatar com o sol se dormir
bem, será o dono de minha sombra e de meus bens,
os mais preciosos, dispostos em fileiras, arredios,
celulósicos, desprezíveis aos olhos do comércio.
meia-noite e uns vulgares minutos me envelhecem ainda
mais, esse gosto de cachaça vem da rua, o vento une as
memórias extraviadas e sopra nos olhos dos semáforos.
as estrelas estremecem ao piscar de olhos, as estrelas são
partículas deste mundo em suspensão, de tão pequenas
há apenas uma rua e uma lâmpada em cada estrela.


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poema inédito de paulo vieira.


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COMO NUM PASSE DE MÁGICA O VIEIRANEMBEIRA DEU CONTA DOS COMENTÁRIOS, APAGOU-OS TODOS, AO POEMA confessional, NÃO ME PERGUNTEM COMO. ASSIM, JULGANDO IMPORTANTE AS PALAVRAS DOS AMIGOS E PEREGRINOS, E VALORIZANDO O NÃO ESTAR SÓ, MOSTRO AQUI MESMO EM CORPO, OS COMENTÁRIOS E SEUS RETRUQUES...


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Paulo: teu poema continua com a força do existencial, em que o tempo é matéria prima e ômega. Rico, cheio de imagens bonitas e densas. Forte como a luz do meio dia a derreter hipocrisias. Grande!

Gutemberg Guerra


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bem... sobre as estrelas e os universos,eu ouvi, sobre o filho não sei é meio asustador, não o objeto direto mas a representação...
o todo é diferente,a algum tempo é, depois de orquídeas, um outro escritor...
que bom.


Thiara

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diferente...
mais coisas


Thiara

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thiara 1: caro lalú, espero que o trapezista nao quebre o nariz a qualquer hora, mas se quebrar, ao menos vai ter uma cara diferente depois. sobre os horrores da infânicia, não sei dizer... ta me saindo uma critic e tanto.

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vieiranembeira

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thiara 2: cadê os poemas afinal de contas?


beijo,

vieiranembeira

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Caro Gute:

que bom ter o amigo por aqui. e que bom receber essas palavras, quando tenho o mundo em meus ombros e ele não pesa mais do que a mão de uma criança,

beijo amigo,

vieiranembeira


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Gosto de escritores que não desperdiçam palavras. Duro ofício este. Não te invejo, eu e minha pequena escrita, a não ser que a admiração seja uma forma de inveja. É isso, você é um escritor admirável de se ler; não é tempo perdido, é tempo ancho. Sempre bom passar por aqui.

Marcelo Marrat

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Gosto de escritores que não desperdiçam palavras. Duro ofício este. Não te invejo, eu e minha pequena escrita, a não ser que a admiração seja uma forma de inveja. É isso, você é um escritor admirável de se ler; não é tempo perdido, é tempo ancho. Sempre bom passar por aqui.


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ei marcelão! obrigado, é mesmo uma busca não perdê-las, as palavras, mas nem sempre se consegue, elas são manhosas, lisas, mas às vezes nos dão uma chance, vivemos nessa dependência maravilhosa.

abraço,

vieiranembeira

6 comentários:

thiara disse...

diferente...
mais coisas

Anônimo disse...

Paulo: teu poema continua com a força do existencial, em que o tempo é matéria prima e ômega. Rico, cheio de imagens bonitas e densas. Forte como a luz do meio dia a derreter hipocrisias. Grande!

Gutemberg Guerra

Paulo Roberto Vieira disse...

thiara 1: caro lalú, espero que o trapezista nao quebre o nariz a qualquer hora, mas se quebrar, ao menos vai ter uma cara diferente depois. sobre os horrores da infânicia, não sei dizer... ta me saindo uma critic e tanto.

Anônimo disse...

thiara 2: cadê os poemas?


beijo,

vieiranembeira

Anônimo disse...

Caro Gute:

que bom ter o amigo por aqui. e que bom receber essas palavras, quando tenho o mundo em meus ombros e ele não pesa mais do que a mão de uma criança,

beijo amigo,

vieiranembeira

Marcelo Marat disse...

Gosto de escritores que não desperdiçam palavras. Duro ofício este. Não te invejo, eu e minha pequena escrita, a não ser que a admiração seja uma forma de inveja. É isso, você é um escritor admirável de se ler; não é tempo perdido, é tempo ancho. Sempre bom passar por aqui.