sexta-feira, 13 de julho de 2007

ENTRE VISTAS

em maio passado dei uma entrevista ao portal cultura aqui em belém. transcrevi um trecho da entrevista para cá. caso interesse leia a entrevista completa clicando em http://portalcultura.com.br/ , depois é só ir em janela cultura, e finalmente clicar em entrevista. sim, sim, pode tomar uma kaiser antes.

portal cultura- O que te despertou para a poesia?


paulo vieira - O sono do mundo, talvez. Para despertar é preciso estar dormindo. Lembro que desde menino me havia algo corroendo por dentro, e mesmo hoje ainda há. Eu sentia uma espécie de raiva muito rara, que em poucos meninos vi. Era um completo desajeitado e me sentia diferente dos outros meninos, nem melhor, nem pior, apenas mais triste e solitário. Eu já sabia o que era a solidão, nasci sabendo. E logo veio esse desejo de fuga que nos lança bem no meio da guerra. E tive então as primeiras notícias da morte e do amor. Lembro que foi assim: entrei numa biblioteca pela primeira vez, a porta estava aberta, e não entrei porque fossem os livros atraentes ou por qualquer chamado, entrei porque vi uma menina linda entrando. Lá dentro ela sumiu, eu devia ter 14, e nunca tinha entrado numa biblioteca, não venho de família que cultivava livros, mas de família que cultivava milho, feijão, arroz. Família de agricultores. Depois que a perdi de vista, vi em cima de uma mesa um livro aberto, com textos em forma de verso, e comentários sucessivos, era um velho livro de poesia comentada, eu acho. Então li dentro de uma caixa de textos algo mais ou menos assim " cachorrinho puldo branco desaparecido, quando sumiu estava usando roupinha rósea, laçinho e coleira, garantimos excelente recompensa, a quem nos der qualquer pista. Seus donos estão inconsoláveis..." E vinha junto na seqüência "menino de rua desnutrido e vestido com trapos velhos encontra cachorrinho puldo". Fui uma página adiante e li um poema em que era descrita uma sereia de lábios azuis, nunca esqueci dela. Até hoje sonho com ela. Não sei quem era o autor do livro, e isso nunca fez diferença. Saí daquela biblioteca assim que terminei de ler o poema, eu estava iniciado em poesia. Daí em diante continuei matando aula, escondendo os boletins recheados de notas vermelhas e brigando na escola. Vez por outra escrevia um poema.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc sabe o qto é admirável... Então palavras são como a dor ilustrada as vezes por audio ou simplesmente letras...Mto bom este trecho da entrevista...melancólico...mas lindo...senti falta da vizinha q lia um pouquinho p vc..desculpa..foi perfeito. Parabéns seu blog ta mto interessante..bjos te amo sempre e p sempre.
Andreia Uchôa