segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ABAIXO A ALIENAÇÃO PARENTAL!

O que é a Síndrome de Alienação Parental (SAP)?
É termo proposto por Richard Gardner, em 1985, para a situação em que a mãe ou o pai de uma criança a treina para romper os laços  afetivos com o outro conjuge, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor. Saiba mais.


Lei da A

lienação  Parental !


A lei prevê medidas que vão desde o acompanhamento psicológico até a aplicação de multa, ou mesmo a perda da guarda da criança a pais que estiverem alienando os filhos. A Lei da Alienação Parental, 12.318 foi sancionada no dia 26 de agosto de 2010.
Leia na íntegra a LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL.



EM DEFESA DOS AWÁ

Clique no link a seguir, em defesa dos awá:

O PARAÍSO AWÁ ESTÁ SITIADO!


foto: sebastião salgado, 2013


quarta-feira, 26 de junho de 2013

sábado, 22 de junho de 2013

CYBER ANARCO PUNKS


CYBER PUNKS SEM FUZIL NA MÃO

por Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta - O Estado de S. Paulo
1º PROTESTO (quinta-feira, dia 6): Eram só cerca de 150 meninos do Movimento Passe Livre (MPL) e estudantes ligados ao PSOL e PSTU em frente à Prefeitura. Eles já haviam feito manifestações semelhantes em outros anos. Sem novidades.
Eles estavam na calçada, não atrapalhavam o trânsito e cantavam, em uníssono: "mãos para o alto, 3,20 é um assalto". Nada indicava que haveria surpresas. A manifestação deveria virar uma nota no jornal do dia seguinte.
Mas a PM decidiu agir. Por excesso de zelo - talvez um erro histórico -, passou a lançar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra os jovens. Os manifestantes fugiram e foram seguidos até o Vale do Anhangabaú, entre a neblina do gás tóxico.
Começaria a ousada tática dos manifestantes de reagir via barricadas e interrupção do trânsito na hora do rush. Primeiro foram as Avenidas 23 de Maio e 9 de Julho. Depois, eles correram para a Avenida Paulista e se sentaram em frente ao Masp. A Tropa de Choque entrou em ação. Mesmo sem que houvesse tempo para perceber, algo novo e histórico estava acontecendo.
2º PROTESTO (sexta-feira, dia 7): No dia seguinte, os holofotes da imprensa já haviam se voltado para os jovens do MPL e dos partidos de esquerda. Eles se concentrariam no Largo da Batata - 5 mil pessoas compareceram ao ato. A combinação do grupo com a PM era encerrar na Avenida Eusébio Matoso, mas os jovens se dirigiram à Marginal do Pinheiros e interromperam o trânsito no rush antes do feriado. Em piada infeliz, um promotor pediu à PM que atirasse nos manifestantes.
A Tropa de Choque veio novamente com bombas de gás para liberar a pista. O comandante do Choque, coronel César Morelli, era o mesmo que havia abusado das bombas de gás um ano antes, no Pinheirinho, em São José dos Campos. A neblina tóxica não assustou os jovens, que passaram a correr da PM, a se concentrar em novos pontos e a interromper novas vias com barricadas. A ousadia do grupo causou perplexidade. A PM estava perdida.
3º PROTESTO (terça-feira, dia 11): A terça-feira da semana seguinte seria o dia da demonstração de força na Avenida Paulista. As redes sociais começavam a mostrar seu potencial. No terceiro protesto, os jovens e adolescentes que não tivessem em sua timeline do Facebook uma foto na passeata estariam cometendo suicídio social. Seriam os fracassados da escola. Doze mil pessoas compareceram.
A passeata começou de forma festiva na Consolação e não dispersou mesmo com o temporal. A PM acompanhava o cortejo de perto, sem provocar problemas. A situação só mudou de figura quando o grupo chegou ao terminal de ônibus D. Pedro II. Os manifestantes quiseram entrar, mas foram impedidos pela Tropa de Choque. Houve tentativa de negociação, mas novamente as bombas de gás foram o argumento usado pela PM para botar os jovens para correr.
Na subida da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, outra novidade surgiria. Jovens com afinidades anarquistas, boa parte deles pertencente a grupos de pichação que praticam cotidianamente a desobediência civil, os chamados Black Blocks, a "tropa de choque" dos protestos, subiram em direção à Paulista, quebrando agências bancárias, ônibus e pichando prédios públicos. O despreparo da PM se revelou novamente. Soldados quase foram linchados, em fotos que repercutiram nos jornais. Havia um clima de basta no ar. E os manifestantes persistiriam.
4º PROTESTO (quinta-feira, dia 13): O quarto dia de protestos deve ser apontado como o capítulo decisivo da novela. A população já parecia cansada de ser atrapalhada e havia no ar um clima de apoio a ações mais enérgicas da PM. Os policiais foram para as ruas dispostos a manter a Avenida Paulista livre. Cerca de 5 mil pessoas compareceram. PMs e estudantes combinaram que o ato se dispersaria na Praça Roosevelt.
Só que, na Consolação com a Rua Maria Antônia, a passeata insistiu em seguir em direção à Paulista. Cerca de mil policiais estavam preparados para impedir. As bombas começaram a ser lançadas. Na pista da Consolação sentido centro, carros parados foram bombardeados, juntamente com os manifestantes. Bombas e balas de borracha foram disparadas sem constrangimento. Policiais atiravam mesmo quando eram flagrados pelas câmeras de jornais e televisão. Jornalistas ficaram feridos, além de mais de cem manifestantes. A covardia e os excessos policiais, mostrados insistentemente na internet e nas TVs, viraram o jogo. Os jovens do MPL começavam a conquistar, junto com sua geração, um lugar na história.
5º PROTESTO (segunda-feira, dia 17): Quarenta e cinco anos depois, São Paulo parecia reviver ares dos protestos de 1968 na quinta passeata. Perto de 100 mil pessoas foram às ruas, partindo do Largo da Batata rumo à Faria Lima. O Facebook havia se tornado praticamente monotemático. A incapacidade da PM para lidar com a novidade política que surgia havia sido escancarada pelos jovens. O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, sentiu o peso da opinião pública e determinou que os policiais do Choque só agiriam se fosse extremamente necessário.
Ondas de manifestantes se dividiram por três caminhos. Um grupo foi para a Ponte Estaiada, outro para a Paulista e um terceiro, mais radical, foi atacar o Palácio dos Bandeirantes. Depois de tanta desconfiança nos políticos, os jovens bem articulados do MPL tornavam-se a mais agradável surpresa do cenário recente.
Não se reclamava mais do trânsito nem dos protestos. A imprensa havia abraçado a causa. O comentarista Arnaldo Jabor, depois de criticar o movimento no início dos protestos, se desculpou e admitiu o erro. O Brasil parecia mudado, como se uma ficha gigante houvesse caído em algum momento.
6º PROTESTO (terça-feira, dia 18): Apesar do sucesso de público das passeatas, os políticos se mantinham irredutíveis até o sexto manifesto e não reduziam a tarifa. Foi quando os anarquistas dos Black Blocks decidiram entrar em ação. Quando todos esperavam mais uma passeata tranquila, com 30 mil pessoas, São Paulo viveu três horas de caos na mão de 300 jovens. O prédio da Prefeitura, o Teatro Municipal e o monumento da Praça do Patriarca foram pichados; 20 lojas, destruídas e saqueadas. A PM não agiu. Manifestantes foram para a frente da casa do prefeito Fernando Haddad. A violência assustou os políticos, que pareciam ter perdido o controle da situação. E, estavam, de fato.
7º PROTESTO (quinta-feira, dia 20): A estratégia da violência deu resultados. Prefeito e governador revogaram os aumentos. Na sétima passeata, 100 mil pessoas foram à Avenida Paulista com demandas diversas. As ruas haviam mostrado sua força. O PT, percebendo os riscos políticos de ter sido colocado ao lado dos antigos opositores, tentou se mostrar como aliado do movimento. Militantes corajosos deram a cara à tapa na passeata. E acabaram sendo agredidos por parte da população. Os protestos e seus métodos haviam se espalhado pelas outras capitais. Barricadas e depredações viraram uma forma de pressão. O Brasil, mesmo sem saber para onde segue, pode nunca mais ser o mesmo.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

ATRITO-2008

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para o vídeo, albúm completo e o aúdio do Atrito vá ao blog do fabio cavalcante

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sexta-feira, 7 de junho de 2013

ADEUS AO POETA JURANDIR BEZERRA



Assim que Haroldo, filho do poeta paraense Jurandyr Bezerra, me avisou, semana passada, do falecimento do pai no Rio de Janeiro, escrevi o texto "Um pássaro sem limites" e enviei a alguns jornais de Belém. Hoje saiu no Diário do Pará, uma matéria, basta clicar no link JURANDYR BEZERRA - DIÁRIO DO PARÁ  (o crédito da foto, não dado, é meu).

É claro que também não publicaram meu texto, apenas meia página foi dedicada ao poeta e a outra metade legada a uma propaganda de venda de apartamentos em 600 vezes. Afinal, como uma análise crítica, ainda que breve, de um poeta fundamental e desconhecido, de Belém, vai concorrer com a possibilidade da casa própria em 900 vezes?. Por isso, publico aqui, para vocês, meu texto sobre o poeta Jurandyr Bezerra. E logo em seguida a ótima matéria de Bianca Levy do Diário do Pará.

Um abraço,


UM PÁSSARO SEM LIMITES


 Ontem, dia 28 de maio, o poeta Jurandyr Bezerra fez seu derradeiro voo. Voo sem limites, como sua poesia, para os campos do mistério. Internado num hospital carioca com a saúde extremamente fragilizada, devido a uma complicação pulmonar, mas ainda bastante lúcido ao dar entrada no CTI, o poeta não resistiu.
Jurandyr nasceu em Belém, em 1928, onde ainda adolescente, junto com outros garotos como Benedito Nunes, Max Martins, Alonso Rocha e Haroldo Maranhão, começou a lutar com palavras. Depois mudou-se para o Rio de Janeiro e lá viveu e criou a bonita família Bezerra. Mas em surdina, ao longo do último meio século, o artista mais tímido e humilde que já conheci, construiu uma obra poética sólida e em sua maior parte ainda inédita.
Os limites do pássaro (1993, Ed. Cejup) foi o único livro publicado por esse poeta de verve altamente surrealista, cujos poemas impressionaram Carlos Drummond de Andrade e Antonio Olinto. Jurandyr construía versos com um estranho equilíbrio interno, o que resultou em poemas onde delírio e lirismo se casam de modo incomum nas imagens: “Vem chegando / a alegria de teu corpo / azul / verde / vermelho / para que o canto dos rins / seja teu hálito / chamo o pássaro e a flor. / E bebo tua boca / infinita e imponderável, / conduzindo-te ao mar / onde tua língua é uma festa”.
Uma irremediável loucura atravessa essa poética que na leitura nos toma sem alarde, criando um ambiente de mansidão e desventura “E quando pensei / que eu era uma fonte, / tu passaste / de cântaro / à cabeça...”, para, no meio do voo, nos golpear as entranhas “As auroras / construídas à noite / tinham um pedaço / de sua boca”. Há na poesia de Jurandyr um ritmo alucinado de marés arrebentando rochedos em contraste aos silêncios que improvisam a mais funda solidão dos voos.

Palavra
ou cicatriz,
a solidão
é um fruto
que o pássaro
não quis.

Imagens precisas e insólitas alternam-se entre segredos e “aleluias”. O céu visto do mar, o mar visto do céu pelo pássaro que, sabendo transpor distâncias com auxílio de asas silentes, guardava nas retinas os itinerários das palavras que o alimentavam. Jurandyr era um leitor de gosto aguçado e um sonhador sem limites. Olhar de criança envergonhada, em fevereiro desse ano, na sala de sua casa no Rio, o poeta me falava da potência e efeito da poesia de Wiliam Black sobre as atuais gerações de poetas e que um dia gostaria de conhecer o céu.

- “Mas não depois de morto, quero conhecer o céu ainda vivo, depois de morto não interessa”, disse.
- “Você é louco, um surrealista grandioso e louco?”, indaguei.
- “Fico feliz de você me chamar assim... eu gostaria muito de ser o que você disse”.

Poema nº 6

As moléculas
da água do mar
contêm tua nudez
e os desígnios da chama
e o ouro invisível
que flutua
nas divididas conchas.

Uma gota de sal
agônica
desprende-se do oceano
e abraça
a quilha de salgueiro
de teu corpo.
Aleluia!





Paulo Vieira,
são Paulo, 29.05.201
Assista no youtube ao vídeo 
de Jurandyr Bezerra  que produzi 
em março de 2013, aqui:
UM PÁSSARO SEM LIMITES














sexta-feira, 24 de maio de 2013

Estudo busca redimir romance de estreia de Oswald de Andrade

24/05/2013

Por Ana Cláudia Fonseca
Agência FAPESP – José Oswald de Souza Andrade (1890-1954), um dos precursores do Movimento Modernista brasileiro, era uma figura instigante e polêmica. Na provinciana São Paulo dos anos 1920, o poeta, ensaísta e dramaturgo era considerado subversivo, excêntrico, imoral. Foi casado diversas vezes e integrou o Partido Comunista, o que ajudou a aumentar o escândalo em torno de seu nome. Muitos chegavam a desviar do caminho para não cruzarem com ele. O preconceito social contagiou sua obra, que por muito tempo foi relegada em prol de autores mais palatáveis.
No livro Eros Alegórico da Melancolia e do Progresso, lançado em abril pela Alameda Editorial com apoio da FAPESP, o paulistano Sandro Roberto Maio busca compreender alguns aspectos das transformações da literatura brasileira no início do século 20, tendo por centro o primeiro discurso modernista a partir da ficção construída em Os Condenados, a trilogia do exílio de Oswald de Andrade.
A opção por centrar o foco em um obscuro romance de estreia, considerado menor pela crítica, foi feita exatamente por não ser óbvia. Sandro Maio busca apontar como Os Condenados, mesmo sendo um romance lateral, foi uma tentativa de modernização literária.
Os romances que compõem a trilogia – AlmaA Estrela do Absinto e A Escada – mostram o diálogo com uma literatura produzida com certo padrão de importação, feita por intelectuais que buscavam conformar a expressão local ao universalismo europeu. “É um romance de diluição para a introdução de novas formas de literatura, uma espécie de busca da representação da modernidade, uma narrativa que levanta questões importantes sobre a produção literária do período”, afirma Maio.
Embora o modernismo no livro ainda seja distante das características vanguardistas que o consagrariam posteriormente – a escrita telegráfica, a blague, os cortes cinematográficos, as técnicas do cubo-futurismo –, já é possível perceber na construção ficcional do romance uma escrita de transição, pautada pelo desejo da inserção de elementos modernos para a demonstração de uma obra atual. O ritmo do texto é irrequieto, de modo a indicar momentos de descontinuidade entre as imagens e a escrita. Mas a narrativa é passadista, tradicional e cheia de adjetivos.
Um autor fragmentado
Formado em Letras e atualmente aluno de doutorado em Teoria Literária na Universidade de São Paulo (USP), Maio explica que seu fascínio pelo autor modernista nasceu de referências não literárias, como a música popular, o tropicalismo e o teatro Oficina. “Oswald costuma chegar fragmentado para o leitor. Sempre gostei de sua poesia, da blague, dos manifestos e da atitude crítica em relação ao que podemos considerar cultura brasileira. Mas tudo me vinha de modo difuso. Nunca o enxerguei como um escritor de literatura, como um escritor clássico. Eu o via como um personagem combativo da discussão cultural.”
Em sua dissertação de mestrado, desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) entre 2005 e 2008, Maio tenta reverter esse quadro. Por isso, a escolha de Os Condenados. O livro agora publicado é fruto desse trabalho. “Na trilogia, não reconhecemos nem Oswald nem o modernismo propriamente dito. A linguagem dos livros é carregada, mas mostrar esse outro Oswald foi uma busca para compreender o modernismo por outro ângulo, talvez mais dinâmico e menos pontuado pelas marcas de rupturas já orientadas pela historiografia crítica", explica.
Segundo Maio, Os Condenados também merece atenção por sua aproximação com outras formas artísticas, como o trabalho com as imagens em diversos níveis (cinema, fotografia etc.).
O título da obra deve-se ao fato de que a melancolia e o progresso convivem na mesma esfera de expressão do poeta modernista no primeiro momento do movimento: a entrada de elementos que denotam um avanço, portanto signos da modernidade, em convívio com uma estrutura social rígida e conservadora do início do século 20. Em seu conjunto, Os Condenados expressa a inquietude com a realidade, destacando o papel deslocado do artista nesse contexto.
“O poeta é aquele que, excluído do sistema produtivo, busca seus assuntos nos resíduos que não servem à indústria ou ao mercado”, diz Maio. “Por isso, as imagens constantes do deteriorado, da prostituição, do suicídio, da errância de um sujeito que perdeu a função social reconhecida, de personagens que estão inseridos no vazio do sentido, na lama do progresso e na melancolia que imobiliza transformações.”
Eros Alegórico da Melancolia e do Progresso
Autor: Sandro Roberto Maio
Lançamento: abril de 2013
Preço: R$ 35,00
Páginas: 164

terça-feira, 21 de maio de 2013

POEMA COM MÚSICA

mudança de paisagem atendendo a pedido :-)

CLIQUE PARA OUVIR MINHA NOVA PARCERIA COM RENATO TORRES: MADRUGADA

sexta-feira, 17 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

domingo, 28 de abril de 2013

A ROSA O QUE É DE ROSA - 2 (JORNAL 'O GLOBO')


Benedito Nunes, leitor de Guimarães Rosa

Coletânea do crítico paraense, morto em 2011, reúne cinco décadas de reflexões sobre a obra do autor de ‘Grande sertão: veredas’, onde encontrou as condições para seu melhor trabalho como intérprete, articulando literatura e filosofia
 Por Jaime Ginzburg

Em “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa, o protagonista Riobaldo afirma: “Ah, mas falo falso. O senhor sente? Desmente? Eu desminto. Contar é muito, muito dificultoso”. Ao elaborar imagens do passado, Riobaldo fala sobre sua vida de jagunço. Entre fantasmagorias transitam Diadorim, Hermógenes, Otacília, Joca Ramiro e a figura do diabo, na rua, no meio do redemunho. Enquanto relata sua trajetória, Riobaldo comenta o ato de narrar. O leitor, acompanhando o percurso do personagem, encontra questionamentos sobre as condições em que a narração é desenvolvida: “Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância”.

A observação sobre o ato de falar “falso” acentua a necessidade de refletir sobre a linguagem empregada no romance. Em seus estudos sobre a obra de Guimarães Rosa, Benedito Nunes (1929-2011) demonstrou imensa capacidade de pensar sobre a narração. O livro “A Rosa o que é de Rosa” permite avaliar o alcance dessa capacidade.

“Não se pode contar tudo”, explica Nunes, “nunca se vai diretamente ao vivido”. No artigo que dá título ao livro, publicado originalmente em 1969, o crítico é firme em sua posição de que a perspectiva do romance de Rosa “está longe de ser puramente realista”. Ao mostrar a fragilidade do trabalho crítico de João Gaspar Simões, Nunes se distancia da leitura do crítico português, pautada pelo realismo, e opta por examinar o que chama de “região ética” de “Grande sertão”. As reflexões sobre realismo e narração são construídas de modo consistente, propondo uma leitura do romance que valoriza a pluralidade temporal e a complexidade do ato de narrar.

Tempo e linguagem

A contribuição de Benedito Nunes à história das ideias no Brasil é extraordinária. Seu reconhecimento, embora consolidado, ainda está aquém da qualidade de seus livros. Duas características de Nunes saltam aos olhos de seus leitores dedicados: a independência intelectual, que se expressa na sua originalidade crítica, e a ultrapassagem dos limites disciplinares universitários, com um movimento firme e seguro entre diversas áreas de conhecimento. Os interlocutores mais constantes de Nunes são filósofos e críticos literários. No entanto, em razão da clareza didática e da coerência conceitual, seus livros podem beneficiar leitores envolvidos com outras áreas.

O lançamento de “A Rosa o que é de Rosa” constitui uma celebração de cinco décadas de trabalhos sérios de alto nível, e um privilégio para os que lecionam e estudam ciências humanas. O livro expressa um vínculo múltiplo e sempre estimulante entre Rosa e Nunes. Nunca antes desta edição, porém, esse vínculo mostrou sua força com a intensidade justa. Em dois artigos, Nunes relata um encontro com Rosa, em fevereiro de 1967, em um gabinete do Itamaraty, no Rio de Janeiro. O escritor pediu então que o crítico lesse e comentasse “Aletria e hermenêutica” (que Rosa incluiu como prefácio no livro “Tutameia”, publicado no mesmo ano). Além disso, falou ao pensador paraense sobre a presença da filosofia em sua ficção. Esses artigos foram escritos em perspectiva melancólica, dando visibilidade ao cruzamento que se estabeleceu em Nunes entre o impacto afetivo do encontro com Rosa e a percepção minuciosa que o crítico teve da produção do escritor mineiro.

Em Rosa, Nunes encontrou as condições para seu melhor trabalho como intérprete. O crítico, ao longo de sua produção, sustentou questões que reaparecem, de modo reiterado, em diversos textos. É possível destacar alguns tópicos: a definição do conceito de tempo, e as abordagens (linguísticas, estéticas, metafísicas) pelas quais seria possível representar a temporalidade; o papel da linguagem, incluindo suas relações com o mito e a realidade; as formas do ato de narrar, considerando as implicações da ruptura com o realismo na literatura.

Nunes desenvolveu reflexões teóricas sobre esses tópicos em textos notáveis, incluídos em volumes como “A clave do poético” (2010), “No tempo do niilismo” (1993), “A filosofia contemporânea” (1991) e “Crivo de papel” (1998). Nos ensaios de “A Rosa o que é de Rosa”, há trabalhos em que a interpretação sobre o escritor dialoga com essas reflexões. A erudição rara e a determinação em confrontar desafios fundamentam esse volume. É sempre bom aprender com Nunes, não apenas com os resultados de suas pesquisas, mas também com o movimento de seu pensamento.

A idoneidade intelectual de Nunes pode ser verificada em razão de seu discernimento. Além de registrar lealdade a pensadores que admira, ele confronta diretamente aqueles que, em sua opinião, não fizeram trabalhos adequados. Isso fica claro nas notas sobre o crítico João Gaspar Simões e, em especial, em seu estudo da tradução francesa de Rosa.

Nunes faz parte de um reduzido conjunto de críticos literários em que os passos do percurso de estudo são esclarecidos e demonstrados constantemente. Isso demonstra sua generosidade intelectual e abertura ao diálogo. Longe de verdades absolutas, Nunes evidencia que sua interpretação é uma construção.

Cabe acompanhar, por exemplo, as continuidades e mudanças em suas abordagens do romance de Rosa. Entre o texto “Primeira notícia sobre ‘Grande sertão: veredas’”, de 1957, e a conferência “De ‘Sagarana’ a ‘Grande sertão: veredas’”, de 1996, os critérios de leitura e a avaliação da qualidade do livro se modificam. Como ele diz, explicitamente, o romance não surgiu etiquetado “dentro de uma vitrina de teoria literária”. Foi o movimento de leituras interpretativas, em sua multiplicidade, que levou seu valor a ser reconhecido.

A continuada atuação de Nunes no campo da filosofia abriu horizontes reflexivos que qualificam os debates sobre literatura. Ele descreveu a sua própria atividade como “hibridismo crítico”, em “Meu caminho na crítica”, de 2005. “A Rosa o que é de Rosa” permite observar sua capacidade exemplar de articulação entre literatura e filosofia, sem reduções ou esquematismos. Nesse sentido, Nunes, intérprete de pensadores como Wittgenstein e Walter Benjamin, é uma referência indispensável para críticos contemporâneos que valorizam essa articulação.

Talvez o ponto alto do volume esteja na reflexão sobre o narrador em “Grande sertão: veredas”, pois dentro dela são elaboradas anotações sobre tempo e linguagem, que integram elementos examinados ao longo do livro. Ao observar que a narração pode ser interpretada como uma necessidade, Nunes propõe uma chave de leitura potente. Riobaldo, de acordo com suas considerações sobre o ato de narrar, estaria colocando a narração em suspeita, pois o relato “trama e destrama, descontinua a história, interrompida, salteada, reticente”. O crítico propõe que o tempo é central no romance, e que a oralidade se articula com o alto nível reflexivo da prosa. O estudo do narrador é apresentado como desafio de leitura, para o qual convergem questões sobre forma e temas no romance.

Livro traz textos raros

A qualidade do volume é acentuada pelo prefácio brilhante escrito pelo professor João Adolfo Hansen. Além de valorizar os trabalhos de Benedito Nunes, o texto se sustenta como um ensaio independente. A recusa do realismo, a convicção de que literatura não é documento, o componente arbitrário do simbólico, e a ausência de sentido pré-determinado para a vida são alguns dos elementos elaborados pelo crítico. O trabalho de Hansen dialoga de modo preciso com as contribuições de Nunes.

Leitores que acompanham a trajetória de Nunes vão reencontrar trabalhos integrados aos volumes “O dorso do tigre” (1969) e “Crivo de papel”. O volume surpreende ao acolher textos pouco conhecidos, ou de difícil acesso, como “Primeira notícia sobre ‘Grande sertão: veredas’” e “A Rosa o que é de Rosa”. A leitura atenta do volume motiva releituras renovadas de “O tempo na narrativa”, “A filosofia contemporânea” e “Introdução à filosofia da arte”, entre outras obras do crítico.
O livro confirma a qualidade de reflexões de Nunes, anteriormente publicadas, sobre arte e conhecimento, mimese, filosofias da existência e o pensamento de Wittgenstein. Para além disso, o volume nos beneficia com um reencontro necessário com um pensador que, ao morrer em 2011, deixou caminhos abertos. Estamos em tempos em que sentimos com força o peso dessa perda. 
Jaime Ginzburg é professor associado de literatura brasileira na USP. Publicou, entre outros trabalhos, “Crítica em tempos de violência” (2012) e “Literatura, violência e melancolia” (2013)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

'AMARGADO!"

em belém, num tempo outro, by sol gonzalez,



sexta-feira, 12 de abril de 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2013