segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

SOBRE O MONSTRO E A PESTE

     

                                                                                                                                                                     

Em 2016, recém-chegado a Altamira para o trabalho de professor de literatura para jovens que vivem nos rios e nas florestas da região, deparei com a Usina que eu apenas conhecia pelas denúncias, sempre muito bem embasadas, no Jornal Pessoal do meu amigo Lúcio Flávio Pinto. Escrevi o poema “no dia que vi o monstro” de chofre quando vi, naquela manhã chuvosa, a barragem, primeiro pela janela do carro e depois pelo retrovisor. Mas o poema ainda não me contentava, lutei com ele a luta vã, como queria Drummond, e nada. Os anos se passaram e abandonei a luta, derrotado. Quando a peste chegou a Altamira, em março de 2020, pude me trancafiar em casa, e aqui vivi uma outra face da doença, aquela de quem não se contamina com o vírus mas vai definhando um pouco a cada dia ao ver pelas telas o país morrer física e simbolicamente. Escrever poesia vai por um caminho tortuoso, nada que se consiga explicar com retórica. E não existe solução fácil, nem hora perfeita. Assim aconteceu. Eu, ali fenecendo já há mais de meio ano, perdido em meio a tantas perdas pessoais, numa certa manhã, lembrei daquele poema de 2016, procurei e achei os versos malcriados e, finalmente, o poema se deixou reescrever.

Você pode assistir no youtube a minha leitura desse poema aqui, ó: https://www.youtube.com/watch?v=5JHIcKQq-O8&feature=youtu.be

Paulo Vieira

Rio Xingu, novembro do ano da peste.

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