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muros
29 anos e nem um tiro na cabeça
nenhuma surpresa, tipo sair pela noite correndo
e encontrar o mar, mas se ainda assim me vendo
e saio por aí às tontas é só para ver, cego e sem pressa,
que mesmo com a venda ao alcance da mão,
nem assim controlo o nível da cegueira.
29 anos e nem um tiro no coração,
madrugada morna, perfeita, e eu aqui à beira
dessa cama estranhando a posição do corpo
no colchão, a falta de tranquilidade, como se nos 29
últimos anos a cama não tivesse recebido este mesmo corpo
que cada noite se engendrava, quieto. mas agora ele se move
inconformado, talvez pela insônia que jamais sonhou.
29 anos e nem um tiro, sequer acidental, no espirito
desse corpo cansado de sentir cansaço, corpo onde sou
apenas um silêncio rouco após o grito.
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belém, 02 de dezembro de 2007
inédito de paulo vieira
2 comentários:
Talvez cada poema seja esse tiro, talvez seja o que o evita...
... apenas o silêncio
de um mudo
nada inconformado.
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