conheço dand m. faz um tempo. foi ele quem levou pra casa o primeiro prêmio iap de literatura, em 2002. daí são minhas primeiras notícias sobre o cara que agora em 2006 ganhou outra vez o direito de ter livro seu publicado pelo instituto. mesmo assim, poucas vezes nos encontramos. e numa dessas poucas enchemos a cara com muito chop, em certo lugar, digamos, impróprio. então, recentemente resolvi entrevistá-lo, o que resultou em mais uma boa conversa. confiram...
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vieiranenbeira: como nasceu dand m. a palavra em si, ou em quem?
dandm: A palavra "Dand" me indefine há muito. Mas não recordo como se deu ser chamado por este nome.
vieiranenbeira: li teus poemas, neles há fome. o leitor partinha na leitura a fome que é tua. tua fome feita pão e dividida entre autor e leitor. qual dos dois come o maior pedaço da fome?
dandm: Eu, obviamente. Mas há muito deixei de alimentar-me da fome. Hoje devoro a gula, por isso escrevo menos. O leitor "é o luxo de minhas veleidades", como escreveu certo poeta.
vieiranenbeira: 1° livro, flores, 2° livro, branco, em qual livro começa o final do outro? ou em qual final do outro começa o ouro?
dandm: Na verdade, trata-se de dois monolitos silenciosos: "Flores da Campina" faz parte da trilogia "Mea Ossea Poezia", enquanto "Branco ou 33 Poemas Diluídos" compõe a trilogia "Lorena". Portanto, matematicamente, eles não se tocam. Mas como mensurar o limite da poesia, esta "pluma negra solta no ar"?
vieiranenbeira: prefiro perguntar degustando santa helena. até que nunca se prove o contrário o desequilibro é o que nos corrige . Tem gosto de álcool ou de que o abismo?
dandm: De álcool, de água, de esperma, de pétala, de queda – precisa-se apenas saber voar.
vieiranenbeira: tarde tem fim?
dandm: Oh! As longas tardes crepusculares... Penso em Antmor, meu dileto...Sim, as tardes eternas se acabam para sempre, como um poema embalsamado e sem fim.
vieiranenbeira: esta sombra longa que nos cobre a todos, e que passa por nós a cada dia (a que os homens chamam noite), passará um dia?
dandm: A noite é avatar do tempo. Portanto, não posso mensurá-la – apenas atravesso-a.
vieiranenbeira: não fosse o lixo que seria do rato? não fosse o rato que seria do gato? não fosse o gato que seria do cão? não fosse o cão que seria do homem? não fosse o homem que seria do homem?
dandm: Metaforicamente, sem o "homem", (como dizê-lo?), existiria a possibilidade da desconstrução da Guerra, da Raça, de Deus, da questão em si. Lixo, rato, gato, cão, homem, nada são senão instrumentos do Homem: mesmo ratos podem ser menos malignos que Deus. Vide as guerras santas, a Inquisição, o silêncio nas fronteiras do Vaticano.
vieiranenbeira: mulher machuca?
dandm: Todo ser é ferido.
vieiranembeira: dia desses cravei os dentes na coxa da mulher, do canto da boca de carne um filete de sangue desceu vivo feito sorriso. mas sorriso com o tempo apaga? ou melhor, dilui?
dandm: Isso me remete a Lorena, Gioconda, Marilyn Monroe, Dorian Gray e Lestat. O sorriso é o véu do insondável.
vieiranembeira: quem são teus poetas. os que com arco e flecha te rasgam o ombro?
dandm: Por destino, padeço de Trakl, Guimarães Rosa, Age, Breton, Macku e outros poucos que me fogem à lembrança.
vieiranembeira: mesmo que não haja futuro no futuro, há outros livros para lançar ao ciclone?
dandm: Sim, os inéditos da duas trilogias e um mais recente que comecei a erguer, sob o título "Porcelana de Ossos".
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ps. aguardem a pubicação aqui de minhas impressões sobre BRANCO, segundo livro de dand m.
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conversa entre poetas.
Um comentário:
Qual dos dois tava mais bêbado?
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